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EMPREGOS MAIS AMEAÇADOS COM A PANDEMIA

Estudo do FMI aponta os empregos mais ameaçados com a pandemia

Por Trainner RH
24/08/2020 · Mercado informal

A pandemia da Covid-19 está arrasando mercados de trabalho em todo o mundo. Dezenas de milhões de trabalhadores perderam o emprego, outros milhões estão fora do mercado e muitas ocupações enfrentam um futuro incerto.

As medidas de distanciamento social ameaçam postos que exigem presença física no local de trabalho ou interações pessoais. Aqueles que não conseguem trabalhar remotamente, a menos que sejam considerados essenciais, enfrentam um risco significativamente maior de redução de horas ou salários, licenças temporárias ou demissões.

Que tipos de empregos e trabalhadores estão mais em risco? Não é de surpreender que os custos tenham caído muito sobre aqueles que são menos capazes de aguentá-los: os pobres e os jovens nos empregos com salários mais baixos.

Em um novo estudo, investigamos a viabilidade de trabalhar em casa em uma grande amostra de economias de mercado avançadas e emergentes. Estimamos que cerca de 100 milhões de trabalhadores em 35 países economicamente avançados e emergentes possam estar em alto risco porque são incapazes de realizar seu trabalho remotamente. Isso é equivalente a cerca de 15% da força de trabalho desses locais, em média. Mas existem diferenças importantes entre países e trabalhadores.

A natureza dos empregos

A maioria dos estudos que medem a viabilidade do home office segue as definições de trabalho usadas nos Estados Unidos. Mas as mesmas ocupações em outros países podem diferir nas interações presenciais necessárias, na intensidade da tecnologia do processo de produção ou mesmo no acesso à infraestrutura digital. Para refletir isso, o índice de viabilidade de home office que construímos usa as tarefas de fato executadas em cada país, de acordo com pesquisas compiladas pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para 35 países.

Nós encontramos diferenças significativas entre países, mesmo para as mesmas ocupações. É muito mais fácil trabalhar remotamente na Noruega e em Cingapura do que na Turquia, Chile, México, Equador e Peru, simplesmente porque mais da metade das famílias nos países emergentes e em desenvolvimento nem sequer tem um computador em casa. (Veja uma tabela dos países onde trabalho remoto é mais fácil aqui.)

Quem é mais vulnerável?

Trabalhadores nas áreas de alimentos e hospedagem e aqueles no comércio atacadista e varejista são os mais atingidos por ter o menor número de empregos remotos viáveis ou “teletrabalhos”. Isso significa que mais de 20 milhões de pessoas em nossa amostra que atuam nesses setores correm risco.

No entanto alguns são mais vulneráveis que outros. Trabalhadores jovens e aqueles sem ensino superior têm uma probabilidade significativamente menor de trabalhar remotamente. De maneira preocupante, isso sugere que a crise poderia ampliar a desigualdade intergeracional.

As mulheres podem ser particularmente atingidas, ameaçando desfazer alguns dos ganhos em igualdade de gênero obtidos nas últimas décadas. Isso ocorre porque elas estão desproporcionalmente concentradas nos setores mais atingidos, como serviços de alimentação e hospedagem. Além disso, as mulheres carregam uma carga maior de cuidados com as crianças e tarefas domésticas, já que a prestação desses serviços por outras pessoas foi interrompida.

Trabalhadores em meio período e funcionários de pequenas e médias empresas enfrentam maior risco de perda de emprego. Aqueles que fazem meio período são frequentemente os primeiros a serem dispensados quando as condições econômicas se deterioram e os últimos a serem contratados quando elas melhoram. Eles também têm menos probabilidade de ter acesso aos cuidados de saúde e aos canais formais de seguro que podem ajudá-los a enfrentar a crise.

Nas economias em desenvolvimento, em particular, os trabalhadores de meio período e informais enfrentam um risco dramaticamente maior de cair na pobreza.

O risco da desigualdade

O impacto nas pessoas de baixa renda e com trabalho precário pode ser especialmente grave, ampliando as desigualdades há muito tempo existentes nas sociedades. Nossa constatação – de que os trabalhadores na parte de baixo da pirâmide de distribuição de renda são menos capazes de trabalhar remotamente – é corroborada por dados recentes de desemprego dos Estados Unidos e de outros países. Ou seja, a crise da Covid-19 exacerbará a desigualdade de renda.

Para agravar esse efeito, pessoas na base da pirâmide da distribuição de renda já estão desproporcionalmente concentradas nos setores mais atingidos, como serviços de alimentação e hospedagem, que estão entre os menos suscetíveis ao teletrabalho. Trabalhadores de baixa renda também têm maior probabilidade de viver apenas com o dinheiro do dia ou da semana e têm poucos recursos financeiros, como poupança e acesso ao crédito.

Meios de proteção

É provável que a pandemia mude a maneira como o trabalho é realizado em muitos setores. Os consumidores podem confiar mais no comércio eletrônico, em detrimento dos empregos no varejo; e podem pedir mais comida, reduzindo o mercado para os trabalhadores de restaurantes.

O que os governos podem fazer? Governos podem se concentrar em ajudar os trabalhadores afetados e suas famílias, ampliando as redes de seguro social e segurança para protegê-los contra a perda de renda e emprego. Programas de subsídios de salários e de realização de obras públicas podem ajudá-los a recuperar seus meios de subsistência durante a recuperação.

Para reduzir a desigualdade e dar às pessoas melhores perspectivas, os governos precisam fortalecer a educação e o treinamento, preparando melhor as pessoas para os empregos do futuro. A aprendizagem ao longo da vida também reforça o acesso à educação e ao treinamento de habilidades para ajudar os trabalhadores vítimas dos choques econômicos como o causado pela Covid-19.

A crise da pandemia mostrou claramente que a possibilidade de trabalhar online foi um fator crucial para a capacidade das pessoas de manter seus empregos. Investir em infraestrutura digital e diminuir o fosso digital entre diferentes grupos permitirá que os mais vulneráveis participem da economia futura.

 

 

 

*Este artigo foi publicado originalmente no Blog do Fundo Monetário Internacional. Mariya Brussevich é economista do Departamento da Ásia-Pacífico do FMI. Era Dabla-Norris é Chefe de Divisão da Divisão Asiática I no Departamento da Ásia-Pacífico do FMI e chefe de missão no Vietnã. Salma Khalid é economista no Departamento de Hemisfério Ocidental do FMI.